O buscador
Colaboração Sônia Marília Barth
Esta é a história de um homem a quem eu definiria como um
buscador...
Um buscador é alguém que busca, não
necessariamente alguém que encontra.
Também não é necessariamente alguém que sabe o que está
buscando; é
simplesmente alguém para quem sua vida é uma busca permanente.
Um dia o buscador sentiu que devia ir à cidade de
kammir. Ele tinha
aprendido a obedecer rigorosamente a estas sensações que
surgiram de algum lugar desconhecido
de si mesmo, de maneira que abandonou tudo e partiu. Após dois
dias de
marcha em empoeirados caminhos, lá longe divisou Kammir. Um
pouco antes de chegar à cidade,
chamou-lhe poderosamente a atenção uma colina que se encontrava
à direita
do caminho. Ela estava coberta de um verde maravilhoso, com
numerosas árvores,
pássaros e flores encantadoras; tudo estava rodeado por uma
pequena cerca
envernizada...Uma pequena porta de bronze o convidava a entrar.
De repente sentiu que esquecia da cidade e não
resistiu à tentação de
descansar um momento naquele lugar.
O buscador atravessou o portal e começou a caminhar
lentamente entre as
brancas pedras distribuídas como que aleatoriamente entre as árvores.
Permitiu que
seus olhos pousassem como borboletas em cada detalhe desse paraíso
multicolor. Seus
olhos eram olhos de um buscador e, talvez por isso, descobriu
sobre uma daquelas
pedras aquela inscrição:
"Abdul Tareg viveu 8 anos, 6meses, 2 semanas e
3 dias."
Sentiu-se um pouco angustiado ao perceber que essa
pedra não era
simplesmente uma pedra, era uma lápide. Sentiu pena ao pensar em
uma criança tão nova
enterrada naquele lugar.
Olhando ao redor, o homem se deu conta de que a
pedra seguinte também
tinha uma inscrição. Aproximou-se e viu que estava escrito:
"Yamir Kalib, viveu 5 anos, 8 meses e 3 semanas."
O buscador sentiu-se terrivelmente transtornado.
Esse belo lugar era um
cemitério e cada pedra era uma tumba. Uma por uma começou a ler
as lápides. Todas
tinham inscrições similares: um nome e o exato tempo de vida do
morto. Porém, o
que lhe causou maior espanto foi comprovar que quem mais tinha
vivido, apenas
ultrapassava os 11 anos... Invadido por uma dor muito grande,
sentou-se e começou a
chorar. A pessoa que tomava conta do cemitério, que
nesse momento por ali
passava, aproximou-se. Permaneceu em silêncio enquanto olhava o
homem chorar e, após
algum tempo, perguntou-lhe se chorava por alguma pessoa da família.
Não, ninguém da família. - respondeu o buscador -
O que se passa nessa
cidade?
Que coisa tão terrível acontece aqui?
Por
que tantas crianças mortas enterradas neste
lugar? Qual a horrível maldição que pesa sobre essas pessoas
que as obrigou
a construir um cemitério de crianças?
O velho sorriu e falou:
- Pode acalmar-se. Não existe nenhuma maldição. O
que acontece é que aqui
temos um antigo costume que lhe contarei... Quando um jovem
completa seus quinze
anos, ganha de seus pais uma caderneta, como esta que eu mesmo
levo aqui,
pendurada no pescoço. É uma tradição entre a gente, que a
partir desse momento, cada vez
que você desfruta intensamente de alguma coisa, abre sua
caderneta e escreve nela: À
esquerdao que foi desfrutado... À direita, o tempo que durou o
prazer. Conheceu uma
moça e se apaixonou por ela. Quanto tempo durou essa enorme paixão
e o prazer de
conhecê-la? Uma semana? Duas? Três semanas e meia?... E depois...,
a emoção do primeiro
beijo, quanto durou? O minuto e meio do beijo? Dois dias? Uma
semana?... E a
gravidez ou o nascimento do seu primeiro filho...? E o casamento
dos amigos? E a tão
desejada viajem? E o encontro com o irmão que retorna de um longínquo
país? Quanto
tempo desfrutou dessas situações...?Horas? dias...? Assim,
vamos anotando na
caderneta cada momento que desfrutamos... cada momento. Quando
alguém morre, é nosso
costume abrir a caderneta e somar o tempo desfrutado para gravá-lo
sobre a pedra,
porque este é, para nós, o único tempo VIVIDO.
Autor desconhecido